Os portugueses têm um grave problema de leitura. Se um estudo recente diz que 61% não leram um único livro em 2020, diria eu que 99% não leram literatura a sério. Livros de receitas, dicas de automotivação, romances escritos por técnicos de marketing, livros técnicos sobre a falta de técnica – nada contra, mas e o género de literatura que mudou e moldou milénios de civilização? Os portugueses não lêem e a razão vem de muitos lados: desde o sistema de ensino, à inexistência de formação técnica de qualidade, à falta de educação familiar, ao decréscimo da profundidade intelectual e à doutrinação da sociedade, a quem interessa que as pessoas sejam estúpidas, passivas, conformadas e concordantes.
Os jovens não gostam de ler. Um artigo com mais de um parágrafo já é considerado demasiado longo. Antigamente pouca gente sabia ler, mas não havia um romance prolongado demais, nem mesmo o “Guerra e Paz”. Poderia-se argumentar que hoje os dias são mais corridos, apressados e exigentes – mas hoje há mais conforto, muito mais alfabetização e acesso ilimitado às grandes obras da humanidade.
Para quê ler um livro genial se foi feito um filme baseado na obra? Para quê ler um escritor do século passado se os de agora escrevem frases que parecem anúncios de marketing? Para quê ler um relatório financeiro com cem páginas se existe um resumo no final?
A cultura é um retrato dos tempos. Vivemos numa época de consumo imediato, da exaltação do superficial e do prazer instantâneo. A população tem um imenso défice de atenção e pouca paciência, o que são características que, desde logo, as incapacitam para a absorção das artes e, mais concretamente das boas artes – aquelas que fazem diferença na humanidade, que arrebatam, que levam o ser humano a um lugar mais alto e o fazem imortal.
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