Para acabar de vez com as confusões que se fazem sobre o que é ser de boas famílias, sublinho primeiramente que os chamados “betos” são filhos do novo-riquismo do pós 25 de Abril. São os protegidos de uma classe social recém-instalada pela revolução de Abril, ou pela implantação da república, ou ainda pela decadência da monarquia. São eles os novos fidalgos, que significa “filho de algo” e neste caso da escalada social numa sociedade impregnada de corrupção há décadas, talvez séculos. Já há muito tempo que, juntamente com o descrédito da causa monárquica, os títulos nobiliárquicos de nada valem. E os sobrenomes são apenas mais um reflexo da chico-espertice portuguesa, com gente a utilizar o Bourbon, o Távora ou o Vasconcelos, em vez do Ferreira ou Silva, só porque teve um antepassado com esse apelido. A verdade é que somos um país pequeno e que esteve muito fechado por séculos, por isso é natural que sejamos todos primos uns dos outros. A conclusão é que é bem provável que o dono de uma tasca possa ser de melhores famílias que o dono de uma multinacional.
A verdade é que há famílias que são um verdadeiro património cultural português. Existem há séculos e, de geração em geração, deixam um testemunho de grandes valores morais. Por razões óbvias, não trazem fortunas ou grandes propriedades anteriores a 1910. A sua altivez não vem de moradias caras ou carros luxuosos, mas sim de tradições seculares que vêm das suas famílias, incorruptíveis e fiéis a si mesmas. É um mundo a que não se tem acesso através dos melhores colégios, maçonarias, grupos de interesse ou todo o dinheiro do mundo.
Sabemos bem que as grandes riquezas feitas após as revoluções do século vinte, nomeadamente a implantação da república e o 25 de Abril, têm origens dúbias. Num mundo cada vez mais oportunista, onde tudo se vende e tudo se compra, é necessário o ressurgimento dos tais valores morais que fazem parte da herança dos nossos ascendentes. É preciso voltarmos a ter orgulho em ser portugueses e para isso necessitamos de voltar a acreditar na grandeza do nosso povo. Temos de dar valor às famílias que são um tesouro nacional, apesar de haver uma agenda que as quer destruir definitivamente – não podemos deixar que isso aconteça.