Começo por afirmar que não acompanhei este caso de início. A minha desilusão com o atual estado da comunicação social faz com que leia poucas notícias e, quando o faço, é com um cepticismo inicial. Mas coloquei no motor de busca “abusos sexuais na Igreja“ e apareceram um sem fim de notícias. O que é que um português independente deve então fazer para saber realmente o que se passa? Ler o afamado relatório da afamada Comissão. Parece simples é óbvio e foi o que fiz a seguir.
Quando começo a focar-me no texto, vejo que no meio dos seus autores há uma cineasta e pergunto-me qual o sentido. Mas não me distraio e volto ao objetivo, sendo que logo me apercebo que é um estudo científico para e cito: “construir uma tipologia de contextos de abuso, associados a perfis-tipo de pessoas vítimas e pessoas abusadores.” Certo, então não estamos perante “uma equipa de investigação criminal” e apenas 34 depoimentos diretos e mais 14 considerados fundamentais. O total de testemunhos foram 512, portanto mais de 90% foram feitos anonimamente pela Internet respondendo a um inquérito. Nada de anormal numa investigação científica com o propósito de conhecer tipologias de contextos e perfis. A própria comissão realça que “vários dos casos seriam praticamente insuscetíveis de investigação, por falta de dados relevantes ” e ainda que “não age dentro do estatuto de sujeito processual, não apresentando, tecnicamente, qualquer denúncia, mas sim como elemento de ligação” e por isso foram “remetidos para o Ministério Público 25 testemunhos.” Faz todo o sentido, será a entidade que deverá fazer a investigação criminal e, caso seja necessário, levar os casos a tribunal. Nessa altura, o juiz decidirá depois de ouvir as partes – é o óbvio procedimento de um Estado de Direito.
Agora vem a minha conclusão pessoal relativamente a tudo o que li. Mais uma vez, solidifica-se a minha certeza de que a grande maioria das pessoas não se preocupa com o que está para além das notícias. Têm uma opinião formada e querem apenas que esta seja validada. Lêem as manchetes e talvez as breves noticias com um ou dois parágrafos. Neste caso, quase toda a comunicação social revelou os seus ódios anti-papistas, sejam de origem ideológica ou luterana. O que a comissão independente para os abusos sexuais na Igreja fez foi um estudo de investigação, não diligências criminais. Realce que dos mais de quinhentos testemunhos validados, apenas 6% foram através de entrevista. Se a comissão achou que de direito devia enviar vinte e tal testemunhos para o ministério público, muito bem. Agora confiamos na Justiça para tomar as diligências criminais para os 25 casos, investigar, levar a Tribunal e punir exemplarmente cada culpado. Repito: exemplarmente. É o que esperamos do nosso Estado de Direito: punir concludentemente os alegados abusadores ou inverter os papéis e acusar de denúncia caluniosa os acusadores.
Ler artigo completo (vale a pena) no jornal Observador:
https://observador.pt/opiniao/a-verdade-sobre-os-abusos-sexuais-na-igreja/