A Igreja em chamas

Todos os dias há novas notícias nos jornais sobre uma crise efervescente na Igreja Católica. Não há como esconder a verdade, mas importa refletir sobre a raíz de todo o mal. O problema da Igreja é que foi contaminada com o relativismo moral, que o resto do mundo já tinha abraçado definitivamente. Quando foi aberta a caixa de pandora, enfraqueceu-se, deixou os seus inimigos entrar livremente, esmoreceu, consentiu que destruissem o que demorou milénios a erguer. Em primeiro lugar, deixou o protestantismo à solta, o que faz agora crescer os evangélicos de forma desenfreada em todo o mundo. A hierarquia católica resolveu ter uma benevolência ingénua e, de repente, há milhares de denominações, uma em cada esquina, com auto-proclamados pastores. Em vez de afirmar verdades simples, a Igreja calou-se, deixou que eles introduzissem as suas crenças dentro da própria estrutura – os troncos secos tentam derrubar a árvore.

É evidente que tudo isto só aconteceu porque a Igreja está, ela própria, fraca e frágil, imersa nos problemas causados pela sua inércia e conflitos internos. Há mais de vinte anos, quando eu próprio fiz um percurso de discernimento vocacional, pude ver com os meus próprios olhos que os novos sacerdotes estavam a entrar com um espírito de missão muito limitado, uma preparação intelectual pobre e sobretudo uma preocupante fraqueza cognitiva. Eram somente futuros assistentes sociais que tinham perdido a dimensão sobrenatural de que tinham sido investidos. Pior do que tudo, estava a abrir-se um caminho para a protestantização da Igreja Católica. Ou seja, muito mais do que um problema humano, estava a insinuar-se uma questão ideológica, mascarada de evolução e progresso, que levava os ensinamentos cristãos para o abismo. Do outro lado, estavam os católicos elitistas que afirmavam que a Igreja devia passar a ser um clube privilegiado com meia-dúzia de iluminados a reunir-se num local secreto. A morte de João Paulo II foi o fim do lento agonizar dos últimos resistentes a esta grande demência. A minha vocação deixou de fazer sentido numa Igreja assim.

O cenário de hoje é apenas o resultado natural do que se estava a preparar, entre os escândalos consecutivos e os que apregoam que a Igreja irá passar a ser pequena mas mais pura, se descer novamente às catacumbas – no fundo deixe de ser Católica, universal e ceda de vez às excitações iluministas e à convivência com os protestantes. Quem não sabe o que se passa, inventa, confunde ficção com realidade. Por exemplo, a pretensa guerra interna entre Ratzinger e Bergoglio, é um disparate total. Se Ratzinger está ao nível dos grandes teólogos da História da Igreja, já Bergoglio sempre foi um homem de ação, junto dos mais desfavorecidos da sua terra. Sim, existem claramente dois pólos dentro da Igreja, sempre existiram, mas muito para além de dois homens, que claramente se complementam. Já São Paulo deixou escrita a sua extrema discordância, há quase dois mil anos, sobre quem dizia ser de Paulo ou de Apolo – dizia ele aos coríntios que o mais importante era ser de Cristo. Assim é hoje: há o caminho do cisma e a estrada da reconciliação, há o ziguezague do relativismo e a retidão dos valores milenares, há a Igreja num frágil barco à vela ao sabor da corrente e há a Igreja que sempre foi: imune ao ruído, às pressões pagãs, à vaidade da aclamação das massas e às revoluções do tipo luterano. Depois da tempestade vem a bonança, mas é preciso que não seja uma Igreja implodida a reerguer-se dos destroços. Apesar de guiado pelo Espírito Santo, o descendente de Pedro sempre foi humano, às vezes demasiado humano. Mas é fundamental que nos próximos tempos alguém dê um murro na mesa, separe o trigo do joio e reconquiste o que se tem vindo a perder. A Igreja é universal, una e indestrutível, fonte de alimento para todos os homens, conduzindo-os a um encontro pessoal e sério com Jesus Cristo. Foi pioneira na fundação de Universidades e decisiva no avanço da humanidade ao longo dos séculos. Hoje, mais do que nunca, é a humanidade a clamar por uma Igreja Católica forte e ressuscitada, capaz de ser o farol onde impera a escuridão e o engano.

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