A Pobreza das Nações

Estamos no meio de uma tempestade económica que nos afecta a todos e, desgraça das desgraças, toda a gente tem uma opinião a dar. Já não nos bastava ler e ouvir as convicções pessoais sobre o futebol, a moda e a televisão. Todo o povo é economista e especialista em macroeconomia. Em vez da simples observação empírica das grandezas económicas simples, observamos um discurso indignado sobre o comportamento do mercado, a evolução produção, a sustentabilidade dos custos e a eficiência dos recursos. E o problema é que não é um pensamento ou discurso original, mas a repetição das mentiras políticas, perfeitamente obtusas, ditas e escritas como se fossem verdades absolutas.

É cada vez mais inevitável que a política tenha na economia a sua fonte de retórica mais trabalhada. Qualquer político bem sucedido sabe que deve ensaiar bem um raciocínio económico que satisfaça as massas. A questão é que normalmente esbarra no rigor e seriedade da argumentação, caindo inevitavelmente em suposições irrealistas, não verificáveis e altamente simplificadas. Ao contrário do que se quer fazer acreditar, a economia não é uma arte, nem é permeável a modas sazonais. Em vez disso, é uma ciência profundamente matemática e bem definida que, apesar de ter uma história e várias escolas de pensamento, não deve ter como base os juízos de valor.

Por outro lado, se a questão económica é complexa, a sua moralidade não. No meio de todas as mentiras e inverdades, o homem comum tem o direito de fazer perguntas simples (porque é que eu devo pagar pelos erros dos outros?; porque é que o Estado desperdiça tanto dinheiro?) e há a obrigação de lhe responder de forma simples, directa e acessível. Quem fala de economia não deve estar agrilhoado ao poder político ou a qualquer grupo de interesse, mas infelizmente é que temos mais, tanto na televisão como nas novas formas de comunicação. A partir daqui deixamos de falar de ciência económica e começamos a discutir os desejos e vontades de partidos e corporações com agendas sociais específicas e sistemas de valor próprios. Pior ainda, os economistas tornam-se peões e lacaios no centro de disputas que nublam e distorcem as ideias despretensiosas.

E em vez de compreenderem a realidade, distorcem-na; em vez de preverem, gerem expectativas; em vez de servirem uma instituição, região ou país, servem-se alarvemente num banquete que só termina quando muda o ciclo político. A conclusão óbvia desta triste novela será quando o mundo perceber que afinal não precisa de economistas, ou pelo menos destes economistas.

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