É amoroso quando alguém diz que o seu cão ou gato é um filho, no sentido figurado, ao se cuidar com carinho de um animal. Aliás, tratar bem de todos os seres vivos é uma obrigação da humanidade e de cada um de nós em particular. O problema é quando há quem acredite literalmente que ter um animal de estimação é igual a criar uma criança. Estas pessoas consideram que fazem uma escolha e até se consideram espertos, pois conseguiram uma certa independência social e financeira. Sim, porque parece haver vantagem na possibilidade de viajar sem restrições, na falta de barreiras à alavancagem profissional, ou no relaxamento com os diferentes problemas infantis e adolescentes.
Mas há que impôr limites e fazer com que as pessoas encarem a realidade. Por exemplo, é evidente que há dor e luto quando um animal doméstico morre, mas perder um filho é um dos maiores sofrimentos por que um ser humano pode passar e só a comparação é profundamente desrespeitosa. Não se recupera de algo assim, é uma dor que fica para sempre à mostra, uma cicatriz indisfarçável que não é possível curar. Os animais podem oferecer afeto, companhia, reciprocidade e lealdade. Mas pensar que de alguma forma substituem um filho revela carências emocionais assustadoras e perturbações de personalidade latentes, com excessiva gravidade relativamente a potenciais e crescentes distanciamentos em termos de interação social ou até faltas de compaixão e empatia. Ou seja, é possível que por detrás desta afeição esteja um problema psiquiátrico.
Se é verdade que um cão pode melhorar o humor, a ansiedade e ser digno de dedicação, já quando se fala de amor incondicional ou vínculos inabaláveis, estamos a falar de realidades completamente distintas. Não é preciso ser um Freud para se perceber que o excessivo foco num animal poderá ser um desejo recalcado e inconsciente de ter filhos e não se poder, quer por condicionalismos físicos ou dificuldades psicológicas de relacionamento e de assumir compromissos.
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