O Trunfo do Grungo

Boçal é o indivíduo que tem pouca educação, pouca inteligência ou pouca delicadeza. Na minha terra apelida-se habitualmente de “grunho”, uma palavra que parece muito mais assertiva. Hoje é esta maneira de estar, agir e sentir, que impera nas mais diferentes facetas da sociedade. Esteticamente, o belo, considerado bonito pela mulher e pelo homem, é o grunho, com traços faciais rudes, num corpo modelado no ginásio ou na mesa de operações do cirurgião plástico, enfeitado com tatuagens. Sejamos sinceros: para se ser bem sucedido nos dias de hoje, vale mais se parecer assim do que ter uma educação intocável ou um intelecto superior. A sensibilidade, orgulho ou honradez são atributos a abater.

O 25 de Abril não trouxe a riqueza para todos, apenas mudou a classe social dominante, sendo que o grande responsável pelo aumento do PIB e bem-estar das famílias, foi a adesão à CEE. Aqui é que se assistiu a uma verdadeira revolução económica, com a ascenção de uma classe média, que antes vivia em dificuldade. A construção de grandes obras públicas, nomeadamente em autoestradas e outras vias de comunicação, trouxe pessoas do interior para o litoral. Se por um lado, hoje temos uma enorme desertificação do interior, por outro o litoral e as grandes cidades estão a abarrotar de gente.

A inversão das classes sociais e a ascenção da classe média trouxe um novo tipo de liderança económica, política, social e cultural. Dos famosos novos-ricos dos anos oitenta, destacam-se hoje os seus filhos, como quadros superiores e médios das empresas, os primeiros licenciados de famílias que nunca tinham tido acesso à educação superior. Hoje estão hipnotizados e deslumbrados com os pequenos poderes que os seus avós nunca tiveram. Se o resultado é muito democrático e socialmente aceitável, também não se pode deixar de frisar a falta de preparação destas pessoas, demonstrando flexibilidade moral e de valores, contribuindo em muito para a grande corrupção que existe, a mentalidade fraca e a falta de competitividade da economia.

O grunho tornou-se escravo do mainstream: aquilo que uma pequena elite considera como o que deve ser ouvido, lido e visto pelas massas. Até o grupo que controla os mídia, a política e a internet, é claramente e incomensuravelmente boçal, dos próprios políticos aos comentadores. A economia é dominada por superficiais e a arte é o recreio de brutos sem gosto, nem ideia do passado histórico da humanidade. No entanto, é de referir que embora noutras atividades seja intocável, nas artes por vezes consegue-me suplantar o grosseiro e o vazio, como aconteceu na literatura com o movimento Beatnik a meio do século vinte e na música com o Grunge no final do século.

O grunho já aprendeu a movimentar-se primorosamente neste mundo de aparências e do politicamente correto. Odeia política mas por vezes tem de repetir umas alarvidades que ouviu no Governo Sombra para mostrar que é inteligente – o futebol é a sua praia. Em casa é primariamente racista, mas no trabalho e nas redes sociais é o primeiro defensor anti-racista. Já percebeu como ser socialmente aceitável: colocar frases de apoio aos cãezinhos e de ódio às religiões todas – menos a budista, que até está na moda e é do bem.

Profissionalmente, é um incompetente mal-preparado, mas alcança facilmente lugares de topo através da corrupçãozinha que ele ajuda a perpetuar – mas, sem a qual, seria mais um labrego. Este é, pois, o mundo dos boçais, mesmo disfarçados de grandes líderes empresariais, opinadores com a sabedoria da “Wikipedia” ou de betos da esquerda caviar. O país é deles.

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