Tempus non erit amplius

Há uma profunda imoralidade numa empresa em que um funcionário ganha 210 mil euros por ano e outros 8,4 mil euros. Na verdade, nem sequer há racionalidade económica, gestão eficaz ou controlo financeiro. Não faz sentido em qualquer ciência numérica ou filosófica. Desenganem-se os keynesianos e os monetaristas, os liberais e os conservadores. O que está a acontecer à nossa sociedade não se inclui em teorias de prémios nobeis. O que se passa é a mais pura loucura.

O Estado, que devia lutar contra as desigualdades salariais e implementar instrumentos de redistribuição de riqueza, é quem tem mais vícios. Não corrige os erros do mercado de trabalho, como seria desejável numa social-democracia, mas exponencializa as distorções com mais desequilíbrio e sob a forma de tráfico de influências. Já se sabia que não se podia contar com a direita, tão pouco cristã na busca selvagem pelo lucro de uma minoria. Agora já sabemos que a esquerda, mais do que incompetente, é ainda pior na proteção dos seus grupos de interesse, como se vê nos mais recentes caso de nepotismo do Governo. E também já temos a certeza que a extrema-esquerda, desesperada para se aproximar do centro para ganhar votos, se esqueceu dos trabalhadores e é apenas mais um conjunto de emproados que enriqueceu à custa da classe que sempre disse defender.

E o que faz o povo? O que faz uma população na pobreza ou no seu limiar? O que faz uma classe média que é tratada como um joguete para meninos ricos, maltratada por políticos que a utiliza e depois a deita fora? – Seria de esperar uma revolução iminente, as ruas a encherem-se de gente que perdeu a paciência com tanta desigualdade e injustiça; afinal, não é isto que lhes prometeram há quarenta e cinco anos atrás: o povo unido ia herdar a terra, como uns diziam, ou conquistá-la pelo seu trabalho, como afirmavam os outros. Nada disso aconteceu, os vícios e as desigualdades continuam, tanto no mercado de trabalho como financeiro, na justiça e na sociedade em geral. É um fenómeno incrível a ser estudado no futuro que os injustiçados tenham baixado os braços, que haja uma nova geração que se indigna com as coisas fúteis e relativiza as essenciais, que as pessoas estejam hipnotizadas por aparelhos que lhes dão conforto mas que as fazem esquecer a sua própria humanidade.

O futuro é negro, Orwell e Huxley tinham razão. No entanto, há algo que torna o ser humano único e que eu tenho a esperança que aconteça: quando tudo parece completamente perdido, há sempre um grupo de pessoas que vai buscar forças a um local misterioso e, contra tudo e todos, resiste e não desiste. Estou convencido que é esse o nosso destino, no meio das trevas da resignação em que hoje vivemos. Espero ainda estar vivo para participar nessa revolução final, aquela em que vão ser derrubados os filósofos e pensadores falidos dos últimos séculos, erguendo-se um novo paradigma com uma verdadeira igualdade, justiça e paz entre todos os homens.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s