A revolução final

Todos os dias, a todas as horas, somos bombardeados com notícias. As notícias que eles querem que nós saibamos. Palavras repetidas até à exaustão de que vivemos num estado de direito com justiça para todos e numa democracia participativa igualitária. Mas uma mentira dita um milhão de vezes não se torna uma verdade, apenas entorpece o espírito daqueles que interiormente clamam por justiça e direitos iguais para todos.

Haverá esperança enquanto houver um de nós com as palavras certas, contra os corruptos e a sociedade que os fabrica e os deixa operar, contra os políticos que se servem de cada um de nós como uma aranha que prende na sua teia e se alimenta de pequenos insectos, contra os servidores do estado que só se servem a eles mesmos e são protegidos por leis feitas à sua medida. Há algo de totalmente pôdre na nossa sociedade, mas nós já nos habituámos ao cheiro nauseabundo da sua purefação. Quando foi que nos tornámos tolerantes com a crueldade da injustiça?

Vivemos numa sociedade ditatorial que nos diz o que pensar e o que desejar, que vigia cada um dos nossos passos para assegurar que cumprimos cada um dos seus preceitos fundamentais – mas, aqui vai uma novidade, esses princípios fundamentais não são a liberdade, a igualdade e a fraternidade. As palavras capitais que deviam estar forjadas nos nossos maiores edifícios são a tirania, a cobiça e a resignação. Os nossos maiores valores, aquilo que faz os estadistas comoverem multidões, estão enraizados num amor-próprio que mutila a nossa felicidade, na condescendência com um sistema que nos torna mortos-vivos sedentos da carne uns dos outros, na procura de uma felicidade servil baseada no conforto da submissão.

Por onde começamos para fazer uma revolução? Quem são os culpados disto tudo? Se procuram uma guilhotina para começar a fazer jorrar sangue, saibam que o único réu está à vossa frente num espelho. Não os poderosos, os políticos, ou os grupos secretos com agendas próprias, pois eles só existem porque nós concordamos e, pior ainda, os admiramos e ambicionamos participar um dia nas suas orgias privadas. E ensinamos as nossas crianças no medo de que se deixarmos de os servir, o mundo acabará, o caos ocupará as ruas e voltaremos à idade das trevas, onde não havia conforto ou civilização.

Continuaremos a desperdiçar as nossas vidas no consentimento obediente do silêncio, enquanto não criarmos um novo senso comum e deixarmos de ser uma sombra do que somos. Só alcançaremos a liberdade quando conseguirmos ver verdadeiramente as nossas escolhas, só seremos iguais no dia em que acordarmos sem injustiças e só compreenderemos a fraternidade quando voltarmos verdadeiramente a amar. Todos os dias, a todas as horas, somos bombardeados com notícias. Talvez amanhã seja o dia dos títulos falarem da revolução final. Começa hoje por si.

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