A cunha é uma forma de corrupção, tráfico de influências e um crime segundo qualquer estado de direito. Mas acima de tudo é a mais alta instância de humilhação ou arrogância – quer se trate de uma súplica por um emprego ou uma exigência de quem acha que o filho ou afilhado tem direito a certo cargo. Seja como for, a cunha está profundamente enraizada na sociedade portuguesa e parece que para tudo é preciso a “santa cunhazinha” ou a “palmadinha nas costas,” seja para ter sucesso em tal carreira ou para coisas mais básicas, como ter saúde.
Também houve uma altura em que as pessoas me pediam cunhas e sempre tive a “infeliz” ideia de ficar surpreendido e perguntar, “como, quem, porquê, com que direito?.” Uma das primeiras vezes marcou-me e foi logo na universidade. Era uma pessoa que eu sabia que não gostava de mim e até falava mal nas costas, mas um dia veio ter comigo como se nada fosse, com demasiada simpatia e como uma oração a uma divindade. Não só me incomodou, como me entristeceu e me fez ter muita pena. Mas foi o primeiro ensinamento que vivemos num mundo cruel onde o povo não se pode dar ao luxo de olhar a meios para chegar ao objetivo final. Talvez porque haja demasiada pressão para se obter resultados e ser bem sucedido – seja lá o que isso for.
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