Nesta análise vou tão atrás quanto a minha memória consegue ir. De Sá Carneiro só me lembro da emissão interrompida da RTP, a tocar música clássica, quando foi assassinado. Do combate de Freitas contra Soares para a presidência, recordo dos slogans com que brincávamos na escola primária. Por isso, a primeira verdadeira recordação é a do professor de Finanças Públicas que foi fazer a rodagem do carro à Figueira da Foz.
Chamar a Cavaco Silva de direita, é um eufemismo demasiado grande. Um neokeynesiano com uma visão social-democrata da política económica, dificilmente pode ser encaixado no conservadorismo que hoje lhe pretendem rotular. Teve uma série de maiorias absolutas, que lhe deram liberdade de governação de forma sistemática. O que ele não contava é que os seus maiores críticos fossem a classe de novos-ricos que ele próprio criou, fruto da avalanche de dinheiros comunitários da altura. Foi também pai de uma elite, ainda existente, de empresários corruptos e mal formados, que hoje domina o tecido empresarial português e que é a culpada de consecutivas más gestões e da fraqueza da nossa economia, profundamente dependente do exterior.
Quanto à extrema-direita, sempre se reduziu à sua insignificância, nunca tendo um por cento da relevância da extrema-esquerda. A ascensão recente de André Ventura tem tanto de artificial como de pouco credível, desde o suposto ódio aos ciganos até à defesa de um nacionalismo populista copiado de outros países europeus.
Portugal precisa de uma direita séria, sem populismos, capaz de solucionar os grandes problemas sociais e económicos da sociedade, ao mesmo tempo que esmague a corrupção que infeta os organismos públicos há quarenta e seis anos. É preciso credibilizar a justiça, é urgente libertar a comunicação social das influências partidárias e ideológicas. Há tanto a fazer na sociedade portuguesa e, mais do que preconceitos de esquerda ou de direita, precisamos ser governados por gente descomprometida, honrada e competente.
