PS
Hoje de manhã a imprensa nacional exultou de alívio, assim como muitos detentores de tachos, cunhas a afins por esse país fora. O partido dos donos disto tudo ganhou com maioria absoluta. Hoje em dia, a política é feita de estudos e sondagens. E o PS sabia o que fazia quando nao cedeu um milímetro nas negociações do orçamento. Apanhou o PSD e o CDS em crise de liderança, enfraqueceu a extrema-esquerda e triunfou. A última vez que os socialistas tiveram maioria absoluta foi com Sócrates e sabemos todos no que deu. Hoje recomeça com a sua equipa. Vamos ver no que vai dar ou a ingenuidade de votar no mesmo e esperar um resultado diferente.
PSD
Quando Rio começou o discurso de derrota a proclamar vitória pelas contas da campanha estarem corretas, vimos que se trata de um economista, não de um politico. A imagem cinzenta do técnico de contas certinho, que tentou transformar nesta campanha recorrendo ao humor, não se dissociou dele. Era tarde demais. Talvez fosse o melhor primeiro-ministro que pudesse sair das eleições e certamente o melhor ministro das finanças. Mas perdeu e deve sair com humildade e ajudando a construir um PSD equilibrado e pujante.
Chega
Foi o segundo maior vencedor das eleições e teve um resultado por(ventura) irrepetível. Tal como a IL, teve o profundo erro e mau gosto de cantar vitória, quando o partido socialista conseguia uma maioria absoluta. Fez transparecer a ideia de que é mais importante o partido do que a população portuguesa que jura defender. Ventura ainda tentou dizer que “ainda não se tem a certeza absoluta se o PS vai ter maioria absoluta”. Mas certeza já havia. E nao, Dr. Ventura, onze ou doze deputados do Chega não vão fazer a diferença no Parlamento, porque há uma maioria do PS que pode dizer e desdizer, fazer e desfazer. O Chega ganhou muito, mas Portugal perdeu muito mais.
IL
Cedo começaram os festejos da Iniciativa Liberal, como se tivesse ganho as eleições. Muito mal. É o retrato de um partido que veio para mudar a politica portuguesa, mas que foi mudado pela politica portuguesa. Tornou-se aquilo que sempre disse que odiava: um dos donos disto tudo, sujeito ao seu poder e às suas pressões. As eleições autárquicas no Porto foram uma antecâmara disto. Foi um momento triste e marcante ver o presidente da IL a cantar vitória em euforia com os seus, minutos antes de Costa fazer o discurso da maioria absoluta. Se o Chega é o partido do populismo boçal, o IL é o partido do populismo intelectual, que aceita as explicações anacrónicas e sem rigor. Ou não fosse a intelectualidade portuguesa fã do Harry Potter, que considera o Nicholas Sparks um vulto da literatura mundial e o Valter Hugo Mãe um escritor genial. É a intelectualidade de mangas arregaçadas, com a profundidade de uma carica e os valores flexíveis, sem alma ou raça.
BE
O momento de maior alegria pessoal foi verna descida traumática dos bloquistas, de 19 para 4 deputados. Em dois anos, Catarina Martins e as gémeas Mortágua conseguiram destruir aquilo que construiram. Da “obsessão por cargos” a ignorarem os problemas e ataques, à espera que milagrosamente desaparecessem. Cometeu o erro fulcral de colocar a IL como principal oponente, num primeiro tempo e só tarde demais se voltou para o Chega. Pior ainda, deu sempre a ideia que era o braço armado do PS, com inimigos comuns e aptos a fazerem o acordo que não fizeram no orçamento de estado chumbado. Desastre infantil atrás de terramoto incompetente, espera-se um Bloco que consiga expurgar Catarinas e Mortáguas, voltando ao foco para que foi criado.
CDU
Não é possível esconder mais que o partido comunista está a morrer. Tem teimado em resistir, muitas vezes com um trabalho autárquico competente, mas o rejuvenescimento veio tarde demais. E as ideias neomarxistas são mais atraentes do que a religiosidade do PCP. De derrota em derrota, a descida tem sido constante e virá o dia em que acontecerá o mesmo que o CDS.
Livre
É um partido aborrecido, plástico, com os métodos da esquerda radical e que parece inspirado na pior esquerda europeia ou da américa latina. É a extrema-esquerda que vive num mundo diferente, parece estar sempre num mundo à parte, num surrealismo sem racionalidade. De vez em quando eleva uma bandeira do racismo ou do neocolonialismo e sempre o popular ambientalismo. É vazio. Um balão cheio de nada. Da Joacine ao Rui, é o pior populismo de esquerda, disposto a dançar com o poder sempre que lhe der jeito.
PAN
Falei sempre sobre o ambientalismo pueril deste partido. Que nunca foi de pessoas, era de alguns animais e com certeza não era da natureza nem natural. Num tempo recorde, Inês Sousa Real e companhia destruiram um partido, mas o que é fato é que basta um alfinete para despedaçar um balão só com ar dentro. Por muito pouco foi eleita deputada, mas se continuar no partido será caricato. Ou o PAN começa tudo de novo, agora com rigor científico e racionalidade, ou não vale a pena existir.
CDS
Escrevi há pouco tempo um artigo para o Observador sobre a incongruência de se ser democrata-cristão num dia e liberal no outro, mas parece que este foi o sentido de muitos votantes. Também fiz uma análise global sobre o CDS. Na altura disse o que tinha a dizer e reafirmo que o principal culpado nao é Rodrigues dos Santos. Os principais culpados foram os antigos deputados e líderes, foi a aristocracia do CDS feita de arrivistas e novos-ricos sem valores democratas e muito menos cristãos. Já há muito tempo que digo que não podem existir tantas facções num partido pequeno, tantas guerras e tanta arrogância. Há males que vêem por bem. Agora só há duas hipóteses: ou ressuscita mais forte ou morre.
Outros
É muito difícil o trabalho dos outros partidos. Sei por experiência. Quando há apenas um debate em sinal aberto com toda a gente a falar ao mesmo tempo, é difícil sobressair de forma positiva e impossível que isso tenha impacto. A questão é que era expectável que nenhum dos “outros”, que não tiveram inúmeros debates entre líderes partidários, tivesse mais de um por cento. É um problema da democracia portuguesa, sem dúvida, que se quer moderna, participativa e mais próxima dos cidadãos. E dá a noção de que o CDS, PAN e Livre foram francamente incompetentes nos debates, não aproveitando o tempo de mainstream. Mas urge uma mudança urgente neste modelo, para que tenhamos uma democracia um pouco menos imperfeita.
