Leio os jornais de hoje e não acredito. O Porto já passou por muito, desde invasões a cercos, já foi humilhado e desprezado, mas sempre sobreviveu. Porque ainda há quem sinta e seja esta cidade, desde as ruas gastas da Sé até à brisa onde acaba o rio e começa o mar. São os tripeiros, um termo prejurativo para os elitistas e arrivistas, mas um nome que enche de orgulho quem tem esta alma verdadeira do Porto, humilde e honrada.
Nasci ao lado da Câmara Municipal e vivi a maior parte da minha vida ali perto, entre as mercearias tradicionais e as casas cheias de gente nossa. É a estes que na Ribeira, um pouco mais abaixo, o rio segreda verdades que ninguém imagina e que são mantidas pelos valores que construiram o Porto. Podem tirar-nos tudo, um lugar onde morar, o nosso negócio ou até a comida, mas aquilo que somos permanecerá sempre nesta alma única e neste coração tão grande como generoso.
Leio os jornais de hoje e não acredito. O Presidente da Câmara Municipal começa a ser julgado por crimes graves contra o próprio Porto. Mesmo que não acreditemos no que lemos ou na justiça, há algo irreparável que nos fere o orgulho e o espírito. Algo que poderia ter sido evitado e que nunca perdoaremos. Mas a cidade não morrerá nunca e há pessoas que estão de passagem, que jamais serão lembradas. O Porto sobreviverá e, quando as feridas sararem, construiremos uma cidade mais forte nestes escombros.
Saudações brasileiras
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