“Quatro pernas bom, duas pernas mau”
Dizem-me repetidamente que não devia desvalorizar o PAN, mas confesso que é difícil levar este partido a sério: entre a superficialidade com que encara os temas sérios do ambientalismo e a puerilidade com que aborda as questões dos animais de estimação – afinal o seu grande público-alvo. Quem nunca ouviu dizer, no café ou nas redes sociais, “tenho um cão, por isso voto PAN”. É desta trágico-comédia em que se tornou a política nacional, onde o motivo do voto é tão extraordinário como o fa abstenção, que se instalou e sobrevive o PAN. É o “triunfo dos porcos” de mangas arregaçadas.
Mas a ascensão do PAN veio deste sentimento geral de benevolência para com o constante disparate, a falácia irracional e o repúdio pela ciência. Talvez seja mesmo a altura certa para desmascarar o simplismo aparentemente indolor deste partido, que é afinal uma máquina de desinformação com um marketing localizado e que satisfaz as necessidades de ativismo de um nicho de população sem grande preocupação entre o que é verdade ou fantasia.
O discurso do PAN é completamente desenquadrado da realidade portuguesa, não é para um país pobre e com graves carências sociais como Portugal. Mais impostos ambientais, aumento dos custos das empresas ou falar de consumo desenfreado e crescimento económico insustentável poderia parecer até de profundo mau gosto, com o grau de subdesenvolvimento, miséria, falta de competitividade e dificuldade de crescimento, que toda a gente conhece. Mas falar de ciência económica com quem tem as bases dos seus programas saídos de artigos tipo “Reader’s Digest” é injusto, por isso vou apenas sublinhar o que deveria ser óbvio: é fundamental um equilíbrio entre natureza e homem, respeito por todos os seres vivos e defesa intransigente do ecossistema – isto deve começar a nível local, nos sítios onde há maior concentração de pessoas, onde os espaços verdes são essenciais, assim como a harmonia entre jardins públicos e construção humana. Também não podemos deixar arrastar a questão grave da poluição, principalmente atmosférica, que em cidades como o Porto está muito acima do considerado normal e que num futuro próximo trará graves consequências para a saúde da população. Estes e outros pontos foram alguns dos que constaram do meu programa para a Câmara da Invicta e que a comunicação social optou por ignorar. Até compreendo, porque 99% da população prefere ver vídeos de gatinhos ou cãezinhos com o símbolo do PAN, a um texto longo como este.
Mas é preciso sublinhar que votar PAN é acreditar nas teorias de conspiração que envolvem produtos biológicos e transgénicos, ou na eficácia das terapias alternativas na Saúde, como a homeopatia Não lhe basta ser populista e ignorante na ecologia, agropecuária, energia ou ambiente. Além de não trazer soluções para produtores ou benefícios para consumidores, as propostas para a economia são uma nulidade anedótica. Tal como tenho vindo a insistir, o problema nem é da impreparação ou incompetência dos “políticos” do PAN, mas da fragilidade de quem escolhe votar com base em chavões ridículos ou cartazes frívolos