O setor da restauração está a passar por momentos muito difíceis, pelas razões que toda a gente sabe. Há empresas a fechar e gente a passar por sérias dificuldades. Empresas que há dois anos eram sólidas e que hoje sobrevivem com sérios problemas, teimosamente e com grande espírito de sacrifício. É fundamental que o Governo tenha medidas concretas que ajudem estes empresários e que os municípios sejam os primeiros auxiliadores.
Mas também há o outro lado, dos trabalhadores. E o que vou contar aconteceu com um familiar. Uma pessoa vai a uma entrevista num restaurante tradicional, o gerente diz que quer ver como a pessoa trabalha e coloca o entrevistado na cozinha por dois dias, catorze horas por dia, em condições de trabalho subhumano e a passar fome. No final, o gerente diz que a pessoa está contratada mas que só fica se for sem contrato, pois é a regra da casa. Como o meu familiar recusou, obviamente, foi assediado de forma revoltante.
Infelizmente, há mais relatos assim. O que nos tem de fazer refletir que há dois lados, que em princípio deveriam ser apenas uma só equipa comprometida no mesmo sentido, mas que facilmente resvalam para casos de quase escravidão e abusos que não podem acontecer numa sociedade civilizada. As pessoas mais frágeis, os imigrantes e quem passa fome, muitas vezes aceitam tudo. É natural. Mas é dever de todos lutar contra isto.
Se há um setor que tem de renascer das cinzas, nunca poderá ser com casas a abrir nesta altura só para explorar trabalhadores que sofrem e nada têm. Aqui, tal como o apoio às empresas é fundamental, também é necessária a defesa dos direitos básicos das pessoas e da dignidade do ser humano. Este novo recomeço é uma oportunidade para uma maior solidariedade entre os membros da nossa sociedade. Mas quem não cumprir as regras constitucionais do nosso Estado de Direito, deve ser punido de forma exemplar.