Os heróis de guerra, normalmente apelidados de ex-combatentes ou combatentes do Ultramar, são militares que lutaram pelo país, longe de casa, muitas vezes em cenários extremos. Não trouxeram nada de África, a não ser feridas físicas e psicológicas, quando tiveram a sorte de voltar. Matar ou serem mortos, por um país cujos ideais se transformaram e flexibilizaram. Eram quase todos de origem humilde e os que ainda estão vivos trabalharam com sacrifício, no anonimato, durante todo este tempo.
Desde o seu regresso a casa, há quarenta e sete anos, que são desvalorizados pelos governantes e maltratados por uma sociedade doutrinada para lhes cuspir em cima. Pior ainda, são de tal forma ignorados pelas autoridades, que foi preciso passarem décadas para terem uma esmola do Estado. Cuidados médicos especializados ou garantia de despesas com stress pós-traumático, nem pensar. Homenagens e justiça na carreira militar, muito tímidas.
A verdade é que há ódio e preconceito relativamente a estes homens, cujo rancor vem sobretudo de uma esquerda amarrada a doutrinas do passado. Nos países mais civilizados, os militares que estiveram em guerras violentas, são agraciados, acarinhados, saudados em dias comemorativos. Para lá dos fantasmas ideológicos, há uma ingratidão superlativa de um país que não tem merecido o esforço heróico dos seus soldados. E um país sem justiça é um país sem paz: Portugal permanecerá na vergonha enquanto não honrar estes seus heróis mortos e valorizar os que ainda estão vivos, com a pompa e circunstância de quem fez mais pelo país do que todos os políticos juntos desde há quarenta e sete anos.