As pessoas costumam dizer que a nossa democracia é imperfeita, entre um encolher de ombros e o intervalo da novela ou do futebol. Nos últimos tempos, tenho chegado à conclusão que é mais do que isso: é viciosa. Além de controlada por meia-dúzia de labregos tecnocratas com o poder financeiro e político, as pessoas vivem num Estado de apatia, onde a falta de profundidade, foco ou atenção, não lhes permite ver o que se está a passar à frente dos seus olhos e que é claro: a nossa democracia é corrompida, desmoralizada, inerte.
Todos os dias vejo e leio notícias sobre outros candidatos à Câmara Municipal do Porto. Todos os dias há reportagens sobre as suas atividades. Invariavelmente, sempre os mesmos: os partidos do sistema ou os que são a coqueluche da imprensa nacional, normalmente a extrema-esquerda. No caso da Câmara do Porto, a atenção vai ainda para o atual presidente, dito “independente”, do alto do seu pedestal dourado e longe da população. Por razões que são demasiado fúteis para eu compreender, a mesma população que sofre, paga impostos pornográficos e é espezinhada, só considera credível é sérios esses políticos que aparecem na imprensa mainstream e nos jornais de hoje – que são pouco mais do que peças de opinião sob o escudo ditatorial do “critério editorial”. Quem não aparece nessa comunicação social não existe, não faz parte da democracia, são “gente que só quer é tacho” e “devia mas é ir trabalhar”.
Pois bem, neste caso falo por mim. Sou candidato à Câmara do Porto, estou a finalizar um programa sólido e coerente (algo nunca visto atualmente), não quero “tacho”, nunca vivi uma vida confortável, trabalho como um burro de carga e assim continuarei a fazer depois de Setembro, não me candidatei a Presidente da Câmara para ter poder, mas por dever de cidadania, numa altura desesperante em que a cidade está em escombros.
Leio e vejo as entrevistas aos outros candidatos: as suas ideias e propostas de programa parecem vir de umas eleições para a associação de estudantes do ensino secundário. Pesquiso o programa de outros anos e a pobreza é estupidificante: traduz, não só a sua própria incompetência, mas também que os partidos já nem se preocupam em elaborar programas. Sabem que para ganhar votos e eleições, basta um ou dois chavões repetidos na imprensa.
Se chegamos a este ponto, ao nível das democracias dos países subdesenvolvidos, os culpados são fáceis de apontar: o Estado, a quem interessa que o poder seja repartido pelos mesmos, que não legisla nem supervisiona eficazmente sobre se a permissiva lei atual é cumprida; os partidos grandes, que querem manter o status quo, e os pequenos, que estão à espera que caiam migalhas da mesa do banquete; a comunicação social, regida por interesses a quem não interessa que um programa moderno e revolucionário seja lido ou ouvido; os órgãos de supervisão das eleições, que não assumem o seu dever de garantir a imparcialidade da comunicação social.
Não interessa ao poder estabelecido que as pessoas pensem, reflitam, sejam educadas para ler um texto “grande” como este e tenham um pensamento crítico racional. Interessa ao poder que as pessoas obedeçam, sejam gado de abate e que os nossos impostos e os grandes grupos económicos continuem a financiar o seu festim. No final, a grande maioria de nós, o povo fica calado e vota por emoção ou clubismo. E tudo fica na mesma.
Diogo Araújo Dantas
Candidato à Câmara Municipal do Porto